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Crianças com restrição alimentar: mães que passam por isso ensinam como cuidar

Crianças com restrição alimentar: mães que passam por isso ensinam como cuidar

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Se para os adultos já é difícil gerenciar a uma dieta com restrições alimentares, imagine controlar a alimentação de uma criança. Muitos pais são desafiados todos os dias a mandar seus filhos para escola e para o mundo sem que eles acabem ingerindo os alimentos que desencadeiam sintomas desagradáveis e, na maioria das vezes, muito perigosos. É o caso das crianças celíacas ou as que têm intolerância à lactose. Conversamos com algumas mães que passam por isso e separamos algumas dicas para te ajudar nessa empreitada! 

As crianças, além de muito curiosas, sentem necessidade de repetir o padrão de comportamento dos colegas, para não ficarem excluídos do grupo social. E isso inclui compartilhar a merenda ou comer o mesmo tipo de alimento que os demais. Somado a isso, há sempre o perigo de contaminação por outras vias (utensílios e objetos contaminados) ou pelas substâncias "escondidas" nos alimentos. Um professor, funcionário ou parente pouco familiarizado com o problema pode não notar uma substância proibida na composição do produto que está oferecendo à criança. Então vamos às dicas:

1) Esclareça o assunto: a primeira dica, que na verdade é o procedimento padrão, é ir até a escola para conversar com professores e funcionários sobre a condição do seu filho e conscientizá-los sobre o risco e consequência da ingestão das substâncias alergênicas. No caso das escolas públicas, é possível fazer a solicitação formal da alimentação diferenciada e o órgão gestor precisa fornecer ingredientes e funcionários treinados para atender à demanda. Veja no fim do post a lei que regulamenta esse direito.*

2) Divulgue o tema: se proponha a ir até a escola em reuniões de pais e eventos para falar sobre o assunto e conscientizar pais e alunos sobre a realidade da doença e as consequências da interrupção da dieta. Fale também sobre os alimentos permitidos para que as pessoas saibam o que oferecer a seu filho, tanto na escola como na casa de um coleguinha.

3) Contaminação cruzada e o preparo dos alimentos: em algumas restrições, como no caso do glúten, é preciso que os funcionários saibam que o simples uso de uma faca ou panela em que foi manuseada a substância alergênica pode desencadear uma crise na criança alérgica. Por isso os utensílios devem ser devidamente higienizados ou separados para o preparo da merenda desse aluno.

4) Troca de lanches: é preciso estar atento às atividades da criança, pois infelizmente ela não poderá trocar o lanche com o colega. Apesar disso, as crianças costumam ter mais facilidade para entender as diferenças pessoais e estão abertas a entender a orientação dada sobre a alimentação especial do colega, respeitando suas restrições.

5) Festinhas na escola: é interessante pedir à escola ou aos pais dos outros alunos que avisem com antecedência quando uma festinha for acontecer, para que sejam enviados alguns pedaços de bolo e guloseimas permitidas ao seu filho.

6) Material escolar: para as crianças celíacas os cuidados precisam ser ainda maiores. Algumas massinhas e gizes possuem glúten em sua composição e por isso o manuseio e a aspiração das partículas presentes no ar podem gerar uma contaminação e desencadear uma crise.

Uma conversa com quem mais entende

Conversamos com três mães cujos filhos têm diferentes restrições alimentares para saber quais são os seus principais desafios e o como fazem para contorná-los.

 

Naila Portela – Filho de cinco anos e meio, não pode consumir corante, amendoim, frutos secos em geral, camarão e frutos do mar.

Como você lida com a restrição alimentar do seu filho?

Os maiores cuidados são analisar se há alguma substância "mascarada" nos alimentos que ele consume e conscientizá-lo sobre o que ele não pode comer. Sempre leio atentamente o rótulo dos alimentos. O biscoito wafer é processado em máquinas que manipulam amêndoas, avelãs e amendoim, então procuro evitar ao máximo.

E como ele reage às restrições?

Em geral, antes de comer alguma coisa que não conhece bem, ele pergunta se tem amendoim, por exemplo. E ele já sabe que, quando alguém consome esse tipo de alimento, deve evitar o contato direto, porque até conversar e tocar nas pessoas provoca reação alérgica.

Quais são as reações quando ele come o que não pode?

No caso do amendoim as manifestações são placas vermelhas, coceira, tosse, olhos irritados e inchados, falta de ar... E ele nunca chegou a fechar a glote porque sempre teve socorro antes desse estágio. Mas sempre gera muita tensão, pois além dessas alergias alimentares ele tem asma.

Qual o seu maior desafio?

O maior desafio é explicar e conscientizá-lo que existem alimentos que são perigosos pra ele. Como ele já está grandinho, é cada vez mais fácil mantê-lo em segurança. Alguns alimentos não entram nem em discussão e ele entende, mas outros ele pode comer um pouco com uma frequência bem baixa. Se for parar pra pensar, tudo tem corante, então a gente tem que escolher como vai ser a exposição dele.

Ele já teve uma crise? Como você agiu?

Uma vez ele foi numa festa com a minha irmã e uns amigos dela estavam comendo Mendorato e conversando com ele. Mesmo sem comer e só com as gotículas de saliva ou a mão "suja" de amendoim ele ficou com os olhos tão inchados e vermelhos que quase não abriam e começou a tossir muito. Minha irmã assustou e o trouxe pra casa. Quando vi como ele estava, já corri pro hospital, mas ele só precisou tomar antialérgico por via oral e usar um colírio antialérgico que a gente até já tinha em casa. Não faço ideia do que poderia ter acontecido se ele tivesse ingerido!

 

Tarina Almeida Viriato – Filho de oito anos tem intolerância à lactose.

Quais são os cuidados principais que você toma quando ele se alimenta fora de casa?

No inicio era muito complicado, pois com sete anos ele já havia provado doces, chocolates, algumas comidas que levam leite em sua composição, diversos tipos de bolos... Enfim, o processo foi muito complicado, mas hoje ele já adquiriu uma consciência. A primeira medida que tomei foi conversar com as mães de amigos próximos, conversei com as professoras, coordenadora e responsáveis pela cantina da escola. Depois, aos poucos, fui aprendendo a manipular o alimento do meu filho. Graças a Deus, hoje no mercado existe muita variedade de produtos para grupos de pessoas com restrições alimentares. Sempre levamos o lanche para onde vamos: clube, festas, escola. Tudo é muito selecionado.

Quais são os seus principais desafios?

Hoje infelizmente, existe uma carência enorme quanto à rotulagem de alimentos, muitos produtos não contem uma descrição clara de sua composição. Hoje, esse é o nosso grande vilão. Precisamos de uma lei mais especifica e fiscalizações mais enérgicas.

O convívio com outras crianças atrapalha a dieta restrita?

Crianças são anjos, são especiais. A maioria dos amiguinhos respeitam o problema dele e sempre possuem uma alternativa para minimizar os impactos dessa restrição alimentar. As vezes, aparece um amiguinho aqui em casa com um produto sem leite para o Davi. Na páscoa, fiquei muito apreensiva, pois ele queria ganhar ovos, mas muitos amigos o presentearam com ovos caseiros a base de alfarroba e brinquedos. Vejo que a solidariedade é grande para com as crianças.

Como ele lida com a restrição?

Meu filho ainda fica muito chateado, mas a cada dia aprende a respeitar mais o problema, pois as consequências da ingestão de leite são muito perigosas e desagradáveis. Outro dia ele queria comer uma empada de camarão, não conseguimos comprar. A solução foi trocar o desejo pela empada por um churrasquinho de carne. Sempre negociamos alguma troca.

Ele já teve uma crise?

Sim, ele já teve algumas pneumonias, refluxos e ate dor de barriga forte. Hoje ele está há uns quatro meses sem ingerir leite, mas quando isso ocorre por algum descuido ele tem diarreia instantaneamente e reflexos no aparelho respiratório, como sinusites e pneumonias.

 

Elisabeth Cristina Custódio - Filha com 10 anos, é celíaca.

Você enfrenta problemas com a alimentação dela na escola?

Na escola ela tem a merenda separada. Sempre leva fruta, um pão de queijo, um biscoito de polvilho, um bolo sem glúten. Hoje em dia está muito mais fácil, pois encontramos bem mais produtos sem glúten no mercado. Faz oito anos que ela estuda na mesma escola e as professoras e a equipe já se acostumaram com a dieta dela. Na páscoa, quando compram os ovinhos para as crianças, já compram o ovo sem glúten pra ela.

Como ela lida com essa restrição?

Quando ela era pequena, era um pouco mais difícil controlar. Mas eu sabia se ela tinha sido contaminada pelo hálito ou mesmo pelo odor diferente na urina e fezes. Mas como descobrimos quando ela ainda era muito novinha, não tivemos grandes problemas em adaptar a dieta. Por ter crescido sem comer alimentos com glúten, ela nem gosta de massas e essas coias. Então o convívio com as crianças que podem comer esses alimentos não influencia muito. Ela já sabe o que pode comer, até o tipo de chocolate que pode comprar.

Qual é o seu maior desafio?

Acho que o maior desafio é que as pessoas pensam que se trata apenas do que ela não pode comer, mas na verdade existem várias outras situações de risco de contaminação. Se eu estou em casa fazendo um bolo, a farinha que fica no ar pode fazer mal a ela; cortar uma maça com a faca de pão já gera a contaminação; o giz da escola pode contaminar a criança. Hoje a minha família já entende todos esses detalhes e já estamos bem adaptados. Eu separo tudo em casa, o irmão, de 15 anos, não mexe nas coisas dela e na casa da avó já temos as coisinhas dela separadas também, para quando ela vai pra lá dormir ou passar o dia.

*Veja a lei que regulamenta o direito das crianças com necessidades alimentares especiais de solicitar o tratamento adequado:

A Lei N° 12.982, de 28 de Maio de 2014 alterou a Lei N° 11.947, de 16 de Junho de 2009, acrescentando:

  • "§ 2o Para os alunos que necessitem de atenção nutricional individualizada em virtude de estado ou de condição de saúde específica, será elaborado cardápio especial com base em recomendações médicas e nutricionais, avaliação nutricional e demandas nutricionais diferenciadas, conforme regulamento."
  • Segundo a Resolução N° 26, de 17 de Junho de 2013 do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), com base na Lei N° 11.947, de 16 de Junho de 2009, "a alimentação escolar é direito dos alunos da educação básica pública e dever do Estado e será promovida e incentivada com vista ao atendimento das diretrizes estabelecidas nesta Resolução: Art. 14 Os cardápios da alimentação escolar deverão ser elaborados pelo Responsável Técnico (RT), com utilização de gêneros alimentícios básicos, de modo a respeitar as referências nutricionais, os hábitos alimentares, a cultura alimentar da localidade e pautar-se na sustentabilidade, sazonalidade e diversificação agrícola da região e na alimentação saudável e adequada".
  • "§5º Os cardápios deverão atender aos alunos com necessidades nutricionais específicas, tais como doença celíaca, diabetes, hipertensão, anemias, alergias e intolerâncias alimentares, dentre outras.”

 

Como podemos perceber, os cuidados com a dieta de crianças com restrições alimentares exigem atenção e muita disciplina por parte de todos os adultos em contato com elas. Pode parecer difícil, mas com persistência e muita paciência os cuidados viram hábitos e passam a fazer parte do dia a dia dos pequenos. Se você passa ou já passou por isso, se conhece alguma história semelhante ou se tem uma dica para as mães que passam por isso, por favor, deixe um comentário. Será muito útil para todos nós.

Até a próxima!

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